Aos Formandos da LIX Turma de Medicina da UEL.
Todo fim de ano é a mesma coisa: eu fico um tanto quanto depressivo. Em verdade é um misto de tristeza e de alegria. Alegria de vê-los felizes com o final deste trecho da jornada. Mas lembrem-se: foi dado apenas um passo, o mais importante por sinal! Mas foi um passo apenas. Tenham em mente que a vida é feita de recomeços e que a jornada nunca termina. Esta semana tenho visto vocês felizes com a contagem regressiva do fim de curso e recordo 1997, quando este velho professor era aluno como vocês, nesta mesma instituição e estava feliz com a sensação do dever cumprido. É uma grande vitória, uma grande conquista que será coroada com discursos, com festejos, e certamente será inesquecível e estará marcado na alma de vocês para sempre! E vocês merecem todos os louros desta conquista!
Por outro lado tenho que ser egoísta e dizer que esta semana também me tem enchido de tristezas, e não pouca. Tenho olhado a cada um de vocês com uma certa melancolia pois sei que alguns s nunca mais os verei, e isto me deixa assim, diminuído. Se após minha formatura há alguns colegas que nunca mais os vi, que direi de vocês? Seguirão cada um seu caminho e alguns nunca mais poderei cumprimentar, dar um abraço, um sorriso, um puxão de orelha na visita do PSM ou da Neuro... Quando estou me acostumando com nomes, de onde vem o aluno, qual especialidade irá seguir... Quando me habituo e desenvolvo um laço mais forte com vocês de repente o relógio bate as horas, e é chegado o tempo de se despedir... Isto me entristece e parece que foi arrancada uma parte de mim... Depois vem a nova turma de internos, a gente se acostuma aos poucos, se conhece, a ferida da ida da turma anterior vai se amenizando, e quando se parece que tudo está muito bem agora esta turma também vai embora, e a ferida é rasgada mais uma vez. Este é meu ciclo de vida nos corredores de nosso hospital, a nossa casa, o nosso lar.
Se eu pudesse ter o direito de pedir algo a vocês o que eu pediria é que nunca se esqueçam desta nossa casa! Há muitos defeitos, mas é a nossa casa. Foi ali que vocês receberam as primeiras lições, aprenderam examinar, raciocinar clinicamente... Sei das falhas, que são muitas! Mas é nosso berço, nossa escola, por um tempo foi nosso lar... e agora é hora de vocês saírem da casa... Nunca se esqueçam dela! Que seus olhos e seus corações possam estar direcionados a ela. Eu me pergunto: será que desta turma de 80 alunos não haverá ao menos um que retornará a esta casa, se dedicará a ela e repassará a outras gerações o que inicialmente aqui aprendeu e aperfeiçoou em outros centros? Esta esperança de que alguém retorne me faz um pouco mais feliz.
Não se esqueçam que vocês agora irão à batalha num mundo onde reina uma grande carência. Há uma carência material que é a própria pobreza. Lembrem-se que quando os pacientes chegam a nós eles vêm fragilizados. Ora pela doença que os corrói e causa dor, ora pela humilhação de enfrentar um sistema com uma série de falhas. Ora pela humilhação até de serem maltratados por muitos de nós... Não somos melhores que ninguém. Todos somos o mesmo pó, e a ele retornaremos. Que saibamos ser humildes o suficiente pra levar o lenitivo necessário aos que padecem. Se você acredita em Cristo lembre-se da carta do Apóstolo Paulo à igreja em Colosso. Diz algo mais ou menos assim: que tudo que fizermos, que seja feito da melhor forma, de todo o coração, como se estivéssemos fazendo ao próprio Senhor, e não aos homens, pois é a Cristo que estamos servindo...
Verão também que há uma carência moral. O mundo está sitiado! Basta assistir qualquer noticiário e ver o quanto este mundo está perdido. E não é de hoje. Ganância, falta de ética, desonestidade... Lembrem-se que há um caminho largo, fácil... e há um caminho estreito, sinuoso, difícil... Qual escolhereis?
Há também uma carência espiritual. Há falta de DEUS! "Não sejam sábios aos vossos próprios olhos". "Lembrem-se do Criador nos dias de tua mocidade"... Que vocês possam ter a oportunidade de ter um encontro com Cristo, este é meu maior desejo.
Quero pedir perdão por minhas falhas como docente e como preceptor do internato médico. Se houve alguma virtude em mim que seja para a glória do Altíssimo. E as falhas, essas sim eu as assumo: foram minhas. Peço o perdão.
Queridos, gostaria de poder abraçar cada um e dizer o quanto vocês têm sido importantes em minha vida.
"E sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição".
Que Deus, o Grande Arquiteto do Universo, os abençoe e que vocês sejam muito felizes.
"...o meio dia nos abrasa, e nossa sonolência transformou-se em pleno despertar, e devemos nos separar: Se nos encontrarmos outra vez no crepúsculo da memória, conversaremos de novo e cantareis para mim uma canção mais profunda.E se nossas mãos se encontrarem noutro sonho, construiremos mais uma vez uma torre no céu..."
Gibran
A gente se vê por aí...
L.