Veremos em que dá...

Blog pessoal de Lucio Baena de Melo.

Li hoje que milhares de blogs são criados diariamente e não duram mais que 6 meses.

EIS MAIS UM FORTE CANDIDATO!

Tentarei escrever aqui alguns pensamentos, comentários sobre o dia a dia que se vive embaixo do sol...

Este foi o primeiro post e o deixarei aqui pois explica o título do blog: Um Peregrino.
Por que "Um Peregrino?"

domingo, 27 de dezembro de 2020

 Luiz Carlos Jeolás - 30 anos sem o mestre.



No dia 27 de dezembro de 1990  o mestre se despedia do plano terreno, findara sua missão. 

Não tive oportunidade de conhecê-lo. Ele faleceu em 1990 e eu só receberia o batismo com sangue laranja em 1991, ou melhor, me tornaria aluno da Medicina UEL - A Gloriosa.

O pouco que sei  eu ouvi de meus antigos mestres e alguns de seus ex-alunos, além da biografia  escrita pelo José Pedriali, imperdível leitura aos interessados na história da Gloriosa. O título da obra é O Encantador Jeolás .

Era pneumologista e cirurgião torácico. 

Em meados dos anos 70 iniciou-se na arte da pintura. Alguns de meus professores (amigos de Jeolás) ostentam orgulhosamente  suas telas em suas casas e/ou ambiente de trabalho. 

Impossível não me recordar de São Lucas, o padroeiro da Medicina.  Lucas era médico e a tradição o coloca como pintor.

Eurico Branco Ribeiro, médico e escritor,  publicou 4 volumes sobre a vida de São Lucas. A obra (atualmente esgotada) se chama Médico, Pintor e Santo

Ao recordar a obra e o mestre Jeolás estabeleço essa analogia.  Jeolás era médico. 

Médico: pessoalmente gosto de separar (não sei é invenção minha, mas tenho este conceito estabelecido na mente) aqueles que são médicos daqueles que são técnicos em medicina.  O técnico em medicina é aquele que aprendeu sinais, sintomas, diagnósticos e tratamentos. Fazem bem seu trabalho? Sim. Exercem bem o seu papel.   Todavia, na minha limitada forma de entender as coisas, ser médico é algo mais. Vai além.  Envolve empatia, paixão, entender o sofrimento humano e amenizá-lo.  Aquela tentativa de enxergar alma. Para ser médico há que se ouvir e atender um chamado. Ter algo a mais pra ser oferecido. Algo que não se encontra nos livros técnicos e que não se aprende nos bancos escolares.  Jeolás  era possuidor de tais dons e predicados. 

Pintor: Jeolás era pintor.  Li que suas obras representavam fases de sua vida. Acho belo o explanar sentimentos e vivências em matizes. Sou daltônico. Das cores e da vida. Faltam-me a sensibilidade e conhecimento para apreciar  as artes plásticas. Possuo livros, os leio, procuro obras na internet (em especial Bouguereau) mas confesso ser incapaz de entender a profundidade das telas e tintas.  Das artes, tento  de forma amadora, crua e sem talento escrever algumas linhas que envio a alguns colegas, roubando seus valorosos minutos à atenção de tão pobres linhas. Perdoem-me.

Jeolás era santo? Se atentarmos à etimologia a palavra santo significa separado, consagrado. Sim, era santo. Foi escolhido e separado para causas maiores: a do ensino e a de amenizar a dor e o sofrimento humano.

Gostaria de tê-lo conhecido.  Compartilharia teu  tabaco,  tomaríamos algumas e falaríamos sobre a vida, teu pendor político, as artes e em especial aquilo que nos une: a Gloriosa.  Quem sabe um dia. 

Dedico estas pobres linhas à tua memória e aos 30 anos de tua ausência. 

Que jamais nos esqueçamos daqueles que dedicaram parte de suas vidas  à Gloriosa.


quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

O Plátano Pé Vermelho

 O Plátano Pé Vermelho

Plátano de Hipócrates, Ilha de Cós - Grécia


         Hipócrates – o Pai da medicina moderna - viveu na Ilha de Cós (Grécia) onde ensinou medicina a seus discípulos à sombra de um plátano cerca de 480 anos antes de Cristo. Uma das lendas sobre a árvore é que ao longo dos séculos mudas eram plantadas no mesmo local na medida em que a sucessora envelhecia e morria. Assim a memória de Hipócrates seria eternizada, como o é ainda hoje. Aos que visitarem a Ilha de Cós há uma praça com um plátano enorme. Alguns dizem que a árvore atual passa dos 900 anos. E ali é cultuada a memória daquele que lançou bases para a medicina moderna.  

Dr. Petrônio S. Reiff

    Nos anos 90 o Dr. Petrônio Stamato Reiff (1927-2015), médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) empreendeu uma aventura até a Grécia com o intuito de conhecer o local sagrado. E não só o conheceu como almejou trazer uma muda do plátano da Ilha de Cós. Há vários relatos do Dr. Petrônio em revistas e mídias contando a saga. Tendo-o feito, plantou em Bebedouro uma muda que cresce ainda hoje e doou outra à sua escola mãe. Dr. Petrônio era médico de outra geração. Época em que a medicina era uma renúncia, quando havia mais deveres que direitos, não havia a proliferação de escolas médicas e a mercantilização do ensino e do exercício da medicina. Outros tempos.


    Este inapto aprendiz de escritor nos anos 90 entrou em contato com a prefeitura de Cós e inicialmente obteve uma positiva resposta sobre a aquisição de uma muda para plantio em Londrina. No entanto, ao apresentar a ideia em sua escola, o Curso de Medicina da UEL (Universidade Estadual de Londrina), não percebeu o mesmo entusiasmo que teve ao desenhar o projeto do plantio e a ideia não progrediu. É compreensível: havia (e ainda há) tantas outras questões de maior prioridade. A história e a conservação da memória são de menor importância.

Prof. Carlos S. Lacaz

    A muda que Dr. Petrônio ofereceu à sua escola foi plantada em 1997, numa cerimônia conduzida pelo então diretor da faculdade, e com a participação e fala do maior historiador de nossa arte, o Prof. Carlos da Silva Lacaz (1915-2002). Este, pessoalmente me mostraria alguns anos depois a árvore e me falaria de seu significado e simbologia. Alguns anos depois estive em seu velório no Salão Nobre da Congregação da FMUSP.  Suas cinzas foram depositadas junto ao plátano plantado em sua escola.


    Passados alguns anos me reacendeu a ideia do plantio da árvore. Consegui contato com os familiares do Dr. Petrônio. A família aquiesceu o pedido e providenciou doação de muda. Dr. André (filho do Dr. Petrônio), os engenheiros Eduardo Reiff (sobrinho) e Eduardo Firmino organizaram a acomodação, o transporte e a receita. Sim, a receita. Pois para acomodar a muda ao nosso clima há necessidade de rega constante e adição de vitaminas e sais minerais, algo que eu seguiria à risca!


  


 Em dezembro de 2015, exatos 5 anos atrás, eu plantei a muda no jardim do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual de Londrina (CCS-UEL) na presença dos Profs. Leandro Diehl, Fabrízio Prado, Fernanda Pegoraro (minha esposa) e de alguns alunos. Um evento simples, humilde, mas de muito significado: uma muda parente da original seria plantada em território Pé Vermelho. Umas das poucas em território nacional.


    Ter em nossa escola uma muda parente da original significa dar valor à história e à tradição. Significa depositar fé e esperanças no ensino da medicina, na prática à beira do leito e na observação dos sinais e sintomas e interpretação de seus dados. É o trabalho constante e árduo para amenizar a dor e sofrimento humano. Significa preparar-se para o futuro sem esquecer das tradições e daqueles que dedicaram parte de suas vidas à causa da Gloriosa.


    

Significa, no dizer de Hipócrates, conservar puras nossas vidas e nossa arte. E para tanta coisa, há tão pouco tempo, parafraseando Hipócrates (a arte é longa, a vida é breve).


    Quando veio o primeiro inverno suas folhas começaram cair e pensei: morreu minha árvore. Achei que todo o cuidado com a rega, vitaminas e sais, podas... deram em nada. Folhas ao relento e muitos galhos secos. Liguei pra Bebedouro e falei com Eduardo. Eu disse que nossa árvore estava morrendo. Eduardo riu, tranquilizou-me e respondeu que se segui os passos recomendados era só uma fase e questão de tempo. Em breve ela retornaria a seu vigor. Ele estava certíssimo. Logo era retornaria em seu esplendor.


    É uma simples metáfora de nossas vidas e em especial de nossa arte médica. Havendo bases, raízes sólidas, constante rega e cuidados ela se tornará frondosa. Quando a semente cai em boa terra ela frutifica, conforme a Parábola do Semeador nas Sagradas Escrituras. Assim é a prática médica: com sólida formação, dedicação, estudo e empenho o resultado é promissor. Haverá revezes e intempéries, mas a semente em boa terra frutifica, assim como a casa construída com bases firmes não cede à tempestade.


    Que assim o seja em nossas vidas.

    


    
    E você, minha árvore. Cresça frondosa e resista!


    Espero que demore muitos anos, pois um dia outros restos mortais serão depositados à tua sombra, em honra à casa que tanto amei.



Gostaria de dedicar estas linhas à saudosa memória da Profa. Ides Miriko Sakassegawa, aluna da Turma XIII da MEDUEL - A Gloriosa.
 

sábado, 22 de agosto de 2020

Dr. Luís Sidônio, meu mentor e amigo

As glórias deste mundo não valem um amigo fiel. Voltaire

Parabéns Luis!

Hoje você comemora 60 anos, meu amigo!

Glórias cá eu não tenho, mas se as tivesse, parte delas tributaria a você, que nestes anos tem sido meu mentor e amigo.

Como digo aos alunos e aos residentes: se com o passar dos anos Deus me der sabedoria, se eu adquirir conhecimento, experiência e me tornar hábil no exercício da Neurologia, e ainda assim se eu for um bom professor e conselheiro, e conquistar alguma fama... serei então digno de um pouco da tua sombra, meu maior e inesquecível mestre.

Obrigado por me permitir partilhar das migalhas que caem da mesa.

Que Deus te abençoe e te guarde.

Do menor dos discípulos,
L.

terça-feira, 23 de junho de 2020

Professor Guerra - 80 anos.

Professor Guerra - 80 anos.

Se vivo fosse, meu querido e saudoso Professor da Farmacologia João Baptista Guerra completaria hoje 80 anos.
Foi pioneiro no ensino médico em nossa cidade.
Numa fase posterior nos encontramos dentro de uma fraternidade. Tornamo-nos mais próximos, conversamos sobre muitos temas e em especial sobre a História do Curso de Medicina da UEL - A Gloriosa. Tudo isso ocorria em sua casa, com vinho à mesa.
Saudades, meu mestre!
Que os mais jovens aprendam cultivar nossa memória e que jamais esqueçamos daqueles que dedicaram parte de suas vidas à causa da Gloriosa.
Com gratidão,
L.