Veremos em que dá...

Blog pessoal de Lucio Baena de Melo.

Li hoje que milhares de blogs são criados diariamente e não duram mais que 6 meses.

EIS MAIS UM FORTE CANDIDATO!

Tentarei escrever aqui alguns pensamentos, comentários sobre o dia a dia que se vive embaixo do sol...

Este foi o primeiro post e o deixarei aqui pois explica o título do blog: Um Peregrino.
Por que "Um Peregrino?"

domingo, 29 de novembro de 2015

Jean-Martin Charcot, 190 anos de seu nascimento.


 Jean-Martin Charcot, o Pai da Neurologia. 
(29.11.1825 - 16.08.1893)

Hoje se comemoram 190 anos do nascimento deste célebre médico, considerado pai e fundador da especialidade neurológica. 

Insiro abaixo uma clássica pintura bastante difundida e conhecida no mundo da neuropsiquiatria, em especial a Neurologia. 

O quadro A LIÇÃO CLÍNICA DO DR. CHARCOT mostra uma aula ministrada pelo mestre sobre a histeria, no Hospital Salpêtrière, em 1887, belissimamente criada pelo artista Pierre A. Brouillet Charroux (1857-1914). O original encontra-se no Museu de Nice (França).




A platéia atenta ao exímio clínico era composta por muitos discípulos que futuramente seriam grandes monstros sagrados da Neurologia, como Babinski, Lorrain, Pierre Marie e La Tourette. A paciente trata-se de Blanche Wittman. Naqueles idos, cria-se que a histeria era uma desordem de fundo emocional e relacionada a fluidos uterinos (do grego hystéra= útero).


Charcot foi um dos grandes responsáveis entre a separação da neurologia e Psiquiatria. A partir de seus trabalhos é conhecida a formação da escola Neurológica Européia. Charcot é considerado o PAI DA NEUROLOGIA moderna, assim como um dos maiores neurologistas e clínico de todos os tempos. 

Há vários sinais e doenças que levam seu nome.

Charcot foi médico e amigo pessoal de Dom Pedro II, sendo o responsável por assinar a certidão de óbito do deposto imperador. 

SALPÊTRIÉRE inicialmente fora projetado para ser uma fábrica de pólvora (salpêtre significa salitre). Posteriormente foi convertido em um depósito de mendigos, pobres e marginais. Posteriormente serviu de prisão às prostitutas e era um local para afastar da sociedade doentes mentais, criminosos e epilépticos.

Após a Revolução Francesa passou a ser asilo e hospital psiquiátrico para mulheres. 

Atualmente é um grande centro universitário e um dos mais afamados serviços de neurologia de Europa.

Que os mais novos saibam reverenciar a memória daqueles que se dedicaram á causa da medicina.

Adaptado por LBM,

domingo, 31 de maio de 2015

O banquinho de madeira - 20 anos

O banquinho de madeira.


Foi aqui neste banquinho, passados 20 anos, que dissemos sim um ao outro.

No dia 31 de maio de 1995, dois paulistanos, distantes centenas de quilômetros de sua terra natal, haveriam de se encontrar nos corredores da Gloriosa, a nossa amada e sofrida Medicina UEL. Ou seja, até o início de nosso amor foi sacramentado nos corredores da Casa a que tudo devo e que muito amo.

Éramos bens jovens. Sonhos e esperanças. Unimos nossas mãos e corações e passamos a ser um só. Minha vontade passaria ser a sua, e sua a minha. E assim caminhamos juntos os próximos passos do curso de medicina.

Perante as várias fases do curso de medicina sempre houve a tua meiga presença. Foi por ti e pra ser digno de teu amor que enfrentei todas as etapas do curso. Sempre havia você. Sempre foi você.

Deus foi misericordioso em me apresentar você. Logo eu, que nada mereço. Só mesmo a bondade de Deus.

Tornamo-nos médicos. Fomos alunos de grandes mestres e agora seguimos seus passos, formando as novas gerações de doutores, num mundo tão estranho e diferente daquele que foi palco de nosso encontro. Estamos longe de chegar aos pés dos mestres que nos precederam. Mas creio que é parte de nossa missão. E esta tarefa se torna branda ao compartilhar e seguir teus passos nos corredores da Gloriosa.

Sempre havia você. Sempre foi você.

Você é o meu descanso em um dia atribulado. Você é refrigério no calor de minhas angústias e medos.

Você me dá bom senso quando me torno impetuoso. Você me lê os pensamentos através de teus olhares. Você é magia. Teu toque e teu sorriso amenizam as feridas da alma.

Você é alento, você é meu mar calmo, você é meu sol do meio dia. Você é fúria, você é meu terremoto, você é meu vendaval!

É você que me aquece no inverno. É teu sorriso que é o frescor de meu verão. É você que deixa meditativo no outono das horas. É você a flor que desabrocha na primavera de minha vida.

Você me completou e nos deu as duas jóias que temos: Alexandre e Laura. Você me deu o maior presente que é receber o abraço dos pequenos e ouvi-los dizer: PAI.

Ah! Que poder teve aquele banquinho de madeira.

São 20 anos e não vinte dias.

Sempre foi você e por você. Sempre será você.

Obrigado Deus por ela estar na minha vida. Nunca mereci tanto.

Não posso deixar de citar uma amiga que foi o amálgama desse encontro : Cris Iacomussi Reganin. Veja aqui, amiga, o que você fez.

Era você, sempre foi você, é você e sempre será você.

Não preciso de mais, até porque não há.

Cada dia vivo, tentando ser digno de você.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

A dor atingiu a maioridade - Faissal José Muarrek

Meu querido Faissal,
Meu saudoso e incomparável mestre Prof. Dr. Faissal José Muarrek.




No dia 21 de janeiro, há 18 anos, lamentávamos tua prematura partida. A dor adquire maioridade. Recordo o dia que fomos tomados pela triste notícia. Na antiga sede da Associação Médica teus colegas docentes o pranteavam e uma geração de alunos sentia-se órfã, e com lágrimas nos olhos tentava expressar seu último adeus. Vi ali todos meus antigos mestres, todos aqueles que contigo construíram nossa Gloriosa Escola de Medicina. Todos descrentes com os desígnios do Altíssimo. No auge da carreira e do reconhecimento de colegas e alunos, era chegada tua hora. 

Lembro a última vez que o vi antes de tua doença e de tua via crucis. Foi na rampa que liga o CCS à enfermaria. Estavas de branco com o inseparável cigarro à boca e óculos à ponta do nariz. E me cumprimentastes de forma cordial, como sempre. Só o veria novamente na derradeira despedida. E posteriormente o veria com regular frequência em minhas saudades e em devaneios, quando me passava pela mente o papel do docente na formação de seus alunos.

Naqueles idos de 1997, ano de minha formatura, este inapto aprendiz de memorialista escreveu umas linhas para honrar-te a memória. Lera em algum lugar uma frase e achei-a apropriada à época e momento: 

‘Ninguém morre enquanto perdura sua memória’.

(‘‘Nemo perit dum mane at memoria ejus’’).

As gerações seguintes deixariam de conhecer um semiologista como tu fostes, um semiologista de verdade. Eras mestre na arte de perscrutar sinais e sintomas. Alguém aos moldes de Torres Homem ou Vieira Romero. Aqueles que de posse de história clínica pormenorizada e em uso de técnica semiológica impecável chegavam ao correto diagnóstico.  

Creio que minha turma, a 44°, tenha sido a última a receber teus ensinamentos. Naquela salinha da BD que nem existe mais, uma vez por semana discutias os casos valorizando desde a identificação completa do paciente até minúcias do estilo de vida, histórico completo e exame clínico primoroso. E quantas vezes quando o diagnóstico final diferia daquele que propuseras, tu o dizias: "Então a história está errada!" E não é que tinhas razão inúmeras vezes? Eras um Joseph Bell, um sherlockiano. 

A distância entre teu conhecimento clínico e o pouco saber de teus alunos não nos separava. Havia uma proximidade salutar entre nós, inexistia aquele muro que assombra e separa o corpo discente do docente. Não se importava de compartilhar o que aprenderas por toda a curta vida. Tua missão era ensinar os mais jovens e por nós era admirado. E no final das reuniões, entre quantidade generosa de café, cheiro de tabaco e gargalhadas recebíamos do mestre o honroso conceito: "Nota zero pra você!" Era risada pra todo lado. E o saldo: sólido aprendizado.  


Uma vez li em algum lugar: "Medicina se aprende à beira do leito e ao lado de quem sabe". Foi com gente de quilate como o teu que ousei aprender a mais nobre das artes: a de amenizar a dor e o sofrimento humano. Quantos de tua envergadura andaram pelas enfermarias do HU partilhando seus ensinamentos. Fico feliz de ter conhecido a maioria dos mestres que eram de tua geração. Muitos já se aposentaram e outros também já partiram. Permanecem a saudade, os ensinamentos, o exemplo e a esperança de um encontro. 

Muitos depois de ti passaram por nossa escola e ouviram o chamado do passado: "Não se esqueçam de tua antiga casa"... Alguns ouviram e retornaram à casa a que tudo devem. 


Eu ouvi o chamado e a ela voltei.


Dias atrás uma Turma de Medicina, a 62, viu por bem escolher este aprendiz de professor como Patrono de sua Turma. Em meu discurso lancei o desafio: "será que não haverá ao menos um que retornará a esta casa, se dedicará a ela e repassará a outras gerações o que aqui aprendeu e aperfeiçoou em outros centros?"


Pedi que jamais esquecessem de nossa antiga Casa. De tudo o que ela representou e representa na formação dessas gerações de médicos.

Na medida em que tua geração termina o bom combate é tempo de nos preparamos pra assumir os postos de quem honrosamente deixa a batalha. Com olhos no passado e ainda sem perder a esperança tentamos dar continuidade a senda pelos mestres iniciada. 


O horizonte, confesso, não é dos melhores. 

Mas ainda não perdemos a esperança.

Saudades, sempre,

L.