Onde está o urso da amizade?
À Laura, minha amada filha.
Onde está o urso da amizade?
Tenho
por hábito anotar certas datas do cotidiano meu e da família. Hoje li em minhas
anotações um singular evento. Nesta data, numa livraria há 3 anos, minha caçula
emocionada se dirigiu a mim e disse: “Papai,
este é o primeiro livro que li inteiro!” Era um livrinho fino, ricamente
ilustrado, próprio para sua idade. O nome da obra é: “Onde está o urso da amizade?” E assim, naquele dia, meses
antes de completar 6 aninhos, minha princesa debutara naquele momento único e
sublime pelo encantador mundo da leitura.
Rememorando
esta data tão importante em tua vida decidi escrever-te estas linhas.
Filha,
quando vejo ou leio a palavra “urso” algumas considerações me veem à mente.
A
primeira delas é aquela mais fofa, mais tenra e própria de tua idade. Aquele
bichinho fofinho, que quase toda menina tem um de pelúcia pra dormir
abraçadinho. Lembra-te do “Pançudo”? Ou daqueles ursinhos policiais que eu trouxe
de Londres pra guardar teu sono? É verdade, filha! Com o intuito de proteger o
sono de uma princesa, nada mais apropriado do que os servos de vossa Majestade.
Eles são fofinhos, gostosinhos de abraçar e carentes de um afago gostoso como
só tu sabes dar.
Lembro-me
também de outro “urso”, o cronista Rubem Braga. Ah, minha filha. Desse eu
falaria horas e te apresentaria suas fantásticas obras. Conheceríamos o
Cachoeiro do Itapemirim e a “Fazenda suspensa no Ar”. Narraria a ti a
experiência dele com os pracinhas na Itália e suas belíssimas crônicas
atemporais. Num cantinho lá em casa há um exemplar autografado. Guardado com
carinho. O Urso debruçou sobre ele e o dedicou a alguém. O velho Braga era seco,
quieto, sério, bravo e áspero. Teu pai tem muito dele. O mesmo jeito “turrão” e
teimoso. Só que aquele sabia escrever, este não. Braga será motivo de nossas
conversas literárias quando chegar a hora.
Outra
lembrança que me ocorre ao ver (ler ou ouvir) a palavra “urso” é a poesia de
Drummond (esse é outro que precisarás conhecer) dedicada a seu neto. Em certa
passagem, ele o diz “...que seja humilde
tua valentia. Repara que há veludo nos ursos.” Ah, minha filha. Isso diz
muito a nós e em especial a ti.
Vejo-te
menina linda e encantadora, a joia do pai. Apresentas uma sagacidade especial. Possuis
agilidade mental, raciocínio e ardil (no elevado sentido do termo) ímpares. És bravinha
e temperamental (culpa do pai). Valente e desafias os meninos nas práticas desportivas.
Sabes como se impor e és autêntica em todos teus atos. Quem te conhece, minha filha,
sabe que há em ti um pote de mel. Uma doçura que é sorvida diariamente por
aqueles que te cercam e te amam. A doçura de tua mãe. És veludo, doçura, alegria e amor.
Há
outro “urso”, minha filha, e pra este há que se tomar maior cuidado. Há uma
expressão dos tempos recentes chamada “amigo urso”. Não, não! Não é o teu
amiguinho do livro. O “amigo urso” é uma expressão feia, ou como falamos:
pejorativa.
Amigo
urso é aquele que é falso. Faz-se de amigo e prestativo mas poderá em algum
momento trair-te. O abraço dele inicialmente poderá ser agradável e te dar
conforto, e depois será capaz de te estraçalhar e deixar-te em ruínas. Cuidado,
filha, com os amigos ursos. Cuidado com as amizades fáceis da vida.
Eu
queria, minha filha, ser o urso que abraças e dedicas carinho e afeto; ser o
ursinho guarda que protege teu sono de princesa, ser o veludo que te aquece e
afaga e ser aquele pai severo (mas nem tanto) que te orienta pelos caminhos da
vida.
Queria
te alertar das amizades falsas, dos caminhos duvidosos e daqueles que podem ser
pedras em teus passos. Queria te abraçar pra te impedir de quedas e feridas e que
todo sofrimento e lamúria caíssem sobre mim, nunca sobre ti e teu querido
irmão.
Queria
estar presente pra te amparar sempre que necessário e estar preparado pra
expulsar de teu rastro os amigos ursos.
Mas
se o fizer, meu anjo, te privarei de experiências que devem por ti ser vividas e contempladas. Como amadurecerás se eu cuidar de ti tal qual uma
porcelana? Ah, que dualidade! Querer te proteger e desejar que amadureças ante
os embates da vida.
Haverá
batalhas que por ti e só por ti deverão ser vividas. Se caíres, meu amor,
estarei lá por ti! No entanto, possuis brio e qualidades necessárias às lutas
da vida. Tens tudo pra te levantares vencedora!
Onde
está o urso da amizade? Pergunto eu...
Ele
está dentro em ti, filha amada! Este misto de raiva e doçura, braveza e
brandura; este pote de mel que cativa de Deus toda criatura,
Que Deus te abençoe e proteja, sempre!
Do pai que te ama,
L.
Londrina, maio de 2016.
Parabéns Lucio, pelo pai maravilhoso que você é!
ResponderExcluirGostaria de compartilhar esse texto com os pais que atendo, se você permitir, em agosto.
Bj
Telma
Parabéns Lucio, pelo pai maravilhoso que você é!
ResponderExcluirGostaria de compartilhar esse texto com os pais que atendo, se você permitir, em agosto.
Bj
Telma
Fique à vontade, Telma.
ResponderExcluirOI Dr. Lucio! gostei do seu texto! Parabéns. Aproveito para lhe sugerir conhecer os vídeos que podem ajudar na orientação da criança contra "um urso maldoso e real...." Procure no google: "Defenda-se! Campanha de enfrentamento à violência sexual." O vídeo é infantil, muito gracioso e bonito de assistir. Sua filha vai gostar de ver com vc...... Um abraço!!!! Mary Neide Damico Figueiró.
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