Veremos em que dá...

Blog pessoal de Lucio Baena de Melo.

Li hoje que milhares de blogs são criados diariamente e não duram mais que 6 meses.

EIS MAIS UM FORTE CANDIDATO!

Tentarei escrever aqui alguns pensamentos, comentários sobre o dia a dia que se vive embaixo do sol...

Este foi o primeiro post e o deixarei aqui pois explica o título do blog: Um Peregrino.
Por que "Um Peregrino?"

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Nove dias úteis

Nove dias úteis




INHA caçula comemora mais um aniversário neste junho: 9 anos. Nem parece que já se passou tanto tempo que peguei aquela coisinha pequena em meus braços, no centro cirúrgico, e a amei.

            Essa semana pediu-me uma boneca. Mais uma! Procurou nas lojas através da internet e me mostrou a eleita para seus nove aninhos. Olhei, comparei os valores entre as lojas e efetuei o pedido. Estando tudo certo, recebi uma mensagem que a encomenda chegaria em “nove dias úteis”.  E é sobre isso que pretendo tomar a atenção de vocês a estas linhas. Desde já peço devidas escusas pelo incômodo e por desviar as atenções para este aprendiz de escritor.

            Sabemos que os “dias úteis” são os dias tradicionalmente comerciais ou de trabalho mais comuns, ou seja, de segunda a sexta-feira. Mas sendo eu um nefelibata, alguém que vive nas nuvens, teço uma meditação sobre isso. Rogo paciência a vocês.

            Se há os dias úteis, haverá também os inúteis? Se hoje domingo fosse, iria à igreja com a família, almoçaríamos em algum restaurante, leríamos um pouco, café, cinema... Ou ficaria em casa assistindo a um filme com filhos e esposa deitados todos na mesma cama... Teria sido um dia inútil?

            Em verdade talvez essas poucas horas seriam mais úteis à minha saúde mental, física e espiritual que todos os outros dias juntos.

            Todos os dias me são úteis. Cada dia que acordo agradeço ao Pai Celestial (em quem deposito minha confiança neste mundo cada vez mais estranho). Agradeço a oportunidade de estar vivo! Agradeço pela família feliz e abençoada. Agradeço e peço direção em minha profissão – uma das mais belas que há. Agradeço por me permitir estender a mão a um necessitado de afeto, conforto e atenção.

            Quando encontro os pacientes nos corredores do hospital, aflitos ante ao sofrimento, sob angústia e insegurança, o fato de eu poder explicar, conversar, consolar e amparar já faz parte da ministração da cura. Não podemos nos esquecer do antigo aforismo: “curar algumas vezes, aliviar outras, consolar sempre!

            Agradeço ao Pai Eterno que, além de me permitir exercer a medicina, concedeu a graça de ser professor (ao menos tento) dessa mesma arte! Ensinar às novas gerações de médicos! Não é uma fácil tarefa. Mas é imensamente gratificante. Honra-me servi-los com alguns de meus parcos talentos.


            Medicina é servir!

            Ensinar é servir!
           

            Uma vez este austero senhor estava em visita médica aos pacientes no hospital escola acompanhado de alguns alunos. Enquanto conversava com um paciente, numa maca em corredor frio de hospital, segurei a mão daquele paciente (um senhor idoso debilitado) e a acariciei, tentando consolá-lo e confortá-lo naquele estado das coisas. Aquele paciente poderia ser meu pai, poderia ser eu deitado na maca (nem cama confortável era) ou algum ente querido. Embora fosse um desconhecido, era um irmão em humanidade e necessitado de ajuda. Tão digno ou mais até do que um rei. Pois este terá o melhor que a mesa farta pode dar. Já aquele terá mui vez que se contentar com as migalhas que lhe são oferecidas. O senhor idoso permanecia em ambiente estranho, em meio à correria, mortes, choro, dor e náufrago num mar de impessoalidade.

            Segurei e acariciei a mão daquele senhor. Ele sorriu e eu também. Houve entre nós uma troca de afeto, de singeleza e de ânimo que a ciência não explica. Um conforto que não se administra nos frascos de soro.

            Reparei a reação dos alunos ao ver este carrancudo aprendiz de professor acariciando e afagando a mão do padecido doente. Um apresentava olhar de espanto, outra sorria atingida por aquele momento único que o amor era ministrado, e outro era indiferente... Que meus alunos sejam estudiosos, técnicos, escorreitos e, sobretudo: aprendam que a arte da medicina requer compaixão e devoção.

            Usem da tecnologia e de todo conhecimento técnico. Mas sejam caridosos e saibam ouvir. Ajam com firmeza quando necessário o for. E saibam que a palavra doce dada em hora certa cicatriza as feridas da alma.

            Que haja amor em todos os atos!

            Só haveria dias não úteis caso não houvesse amor no mundo.

            Amor em todos os atos!

            Agradeço a Deus por permitir que todos meus dias sejam úteis!

            O apóstolo Paulo escreveu que: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor”.

            Que haja amor em seus atos e que todos os seus dias sejam úteis!


Londrina, maio de 2016.

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