Kuplic
Para Alexandre, meu amado filho.
VOCÊ era
um bebê lindo. Lindo, maravilhoso e fofinho. Não que nestes 11 anos bebê não o
seja mais. Sempre será meu filhote querido e amado do pai, meu amigão e
companheiro de tantas aventuras, filmes, seriados e leituras. Eu sei que você
não gosta que eu diga, mas não resisto: sempre será o meu bebezão!
Uma
vez, retornando numa noite da casa de seus avôs, você estava no “bebê conforto”
no banco de trás do carro. Eu me dividia entre estar atento ao volante e vigiar
você pelo retrovisor. De repente eu ouvi uma palavra estranha e diferente: “Kuplic, kuplic.”
Mantive
meu olhar direcionado a você e continuava: “Kuplic,
kuplic”. Eu disse: “O que você está dizendo, meu filho? ”
Você,
ao ouvir minha voz deu um belo e largo sorriso e não parava de dizer aquele
mágico vocábulo que nos entretinha, como se cada pronúncia fosse uma nova
descoberta: “Kuplic, kuplic.”
Antes você estava naquela fase que os pediatras chamam de “lalação”. Agora não,
você emitia uma palavra mais articulada.
Coração
de pai é bobo mesmo. Eu me encantava e me deleitava com esta tua nova
descoberta. Você permaneceu alguns minutos dizendo “Kuplic, kuplic”. E eu ria junto.
Você
estava curioso com o novo som que eclodia de teus lábios? Esse era o motivo de
você repetir sem parar essas palavras? Era a visão que tinha do passeio através
da janela do carro e queria me contar algo que viu? Seriam as casas e carros que pareciam novos ao
teu mundo? Ou você repetia estes vocábulos sem parar já que via a cara
apaixonada de teu pai ao apreciar esta tua adorável manifestação...
Você
sabe, meu filho, quantas vezes eu te disse que essa foi a primeira e misteriosa
palavra que você emitiu. E sabe as inúmeras vezes que te olhei e disse:
“Kuplic, kuplic”.
Ainda
hoje, sempre quando pronunciamos, sem saber a tradução desse dialeto do amor,
olhamo-nos e caímos em gargalhadas.
Que
palavra misteriosa e poderosa é essa, meu filho? O apóstolo Paulo narra em sua
carta à igreja de Corinto: “ainda que eu
falasse a língua dos homens e dos anjos, se eu não tiver amor, nada seria...”
Terá este teu vocábulo alguma analogia com a língua dos anjos, já que você sempre
foi meu pequeno anjo que trouxe um pedacinho do céu pra nossa casa?
Logo
mais de seus lábios eu ouviria outra palavra: “Papai”.
Esta foi uma das maiores alegrias que Deus me permitiu nesta vida. Ser teu pai.
Ver você crescer e ter seus gostos e vontades, tua individualidade, tuas
leituras e já as incipientes dorezinhas no peito que surgem quando o coração
bate mais forte ante as princesas de teu reino. Pensa que não percebo?
Tenho
saudades de muitas de suas horas. Àquelas que remontam dores, não. Mas o resto,
sim. Desde aquela madrugada que te peguei no colo, no Centro Obstétrico - quando
guiada pelo Altíssimo a Dra. Marlene facilitou tua trajetória a este mundo e o
“tio” Vinícius ministrou os primeiros cuidados – até hoje cedo quando te tirei
da cama pra ir à escola. Tenho saudades de cada momento, meu filho. De tuas
primeiras palavras, de quando pedia pra mim o “pilito” em vez do pirulito, do
“cuco de luva” (que era teu sagrado suquinho que a vovó preparava pra você) e
do terrível medo que tinha do grande e cruel “caminoto” (que era um pequenino
gafanhoto que te visitava da janela).
É
uma dádiva de Deus estar com você todos os dias, meu filho. Viveria novamente
cada minuto que vivi por ti.
Que
teu trilhar seja de alegrias, vitórias e esperanças. Haverá momentos difíceis,
meu filho. Mas creio em Deus que permitirá e fará crescer em ti caráter altivo
e combativo. Aprenda com as dores e derrotas. Aprenda, sobretudo, aprenda!
Creia
no Onipotente Deus, meu filho, e empregue tuas habilidades à prática do bem e à
glória de Seu Santo Nome.
Foge
do elogio e agrado fáceis. Cultive amizades e esparge o bem, meu filho.
Brinque
bastante. Estude mais ainda.
Ame
e seja amado. E queira Deus que encontre uma mulher com que possa compartilhar
os anos de tua juventude e maturidade, e ser feliz. Ter alguém ao lado é uma
dádiva do Eterno. Esta graça recebo diariamente ao conviver com tua mãe e
com vocês dois, Laura e Alexandre.
Como
narra o Sagrado Livro, “que as palavras
de teus lábios e o meditar de teu coração sejam agradáveis na Tua presença,
Senhor Rocha minha e Redentor meu”.
E
sempre, meu filho, quando você tiver alguma dificuldade, inquietação, algum
medo ou quiser compartilhar alguma conquista neste vale de lágrimas, olhe pra
mim e diga ou balbucie: “Kuplic, kuplic”.
Eu saberei que este é nosso código secreto, a senha mágica de um dialeto
baseado no mais puro amor e que nos manterá unidos para sempre.
Kuplic, kuplic!