Pedro, tu és a rocha.
Foi
desta forma que o Divino Mestre chamou aquele que seria seu maior líder: Tu
és Pedro, tu és a rocha. Há 2000 anos aquele pescador ouviu o chamado. Em
poucos anos suas ideias, seu trabalho tenaz e persistência incendiariam a
humanidade. Aquele era Pedro, o pescador, o Bispo de Roma pela tradição
católica. Era um homem bravo. O Apóstolo S. Lucas menciona que certa vez Pedro
desembainhou a espada e decepou e orelha de Malco, servo do sumo sacerdote,
quando soube que uma tocaia havia sido montada para prender o Seu Senhor. E
ainda assim foi o escolhido para ser a pedra, a rocha que estabeleceria a
igreja cristã sobre a Terra. Penso cá comigo, se aquele Pedro não era espanhol,
como o nosso o é.
Pedro – aquele
– faleceu jovem em torno do ano 60 da era cristã, a mando de Nero. Mas como bom
pescador soube lançar a rede para que a renda viesse em abundância. Sua
semeadura ainda hoje se ceifa. Produziu a cento por um, no dizer do
evangelista.
O
nosso Pedro hoje completa 80 anos. Pedro, tu és a rocha! Nosso Pedro também ouviu
um chamado. Em fins dos anos 60 e início dos 70, sobre seus ombros seria
lançado um desafio: montar e liderar um grupo na Universidade. Neste mesmo
serviço, que hoje é nossa casa, a nossa rocha seria o primeiro Professor
Doutor, ao defender sua tese em maio de 1970. Anos depois, sob suas redes o pescador
montaria a residência de neurocirurgia, seria chefe de um grande serviço, e se
tornaria meu primeiro e inesquecível chefe. Para liderar um grande grupo só
mesmo aquele que tem no nome a marca da pedra. Pedro, a rocha.
Pedro,
o bispo de Roma, teria atritos em sua jornada. Paulo, o apóstolo dos gentios, o
encontraria e discutiriam face a face. Ah, Paulo. Certamente ele não ouvira
sobre o ocorrido com a orelha de Malco. Se acaso soubesse, pôs a orelha em risco. Homens
fortes e de opiniões rijas. De pedra, como nosso Pedro, a rocha.
Nosso Pedro
foi titular da cadeira até se aposentar, aos 70 anos. Alguns anos antes fui
aceito como parte do grupo, o mais jovem membro da seita (assim define a
neurologia meu mestre Sidônio). Passados 10 anos continuo por lá. Não sou o
mais jovem mas prossigo ainda sendo o menor de todos, sentindo falta de Pedro,
a rocha.
Pedro, o nosso
espanhol, não usava o anel do pescador nem o cetro como o Pedro de Roma. Nosso Pedro
exerceu cargo de liderança. Ora com toques de seda, ora com punhos de ferro, ou
melhor, de rocha. Não deve ser fácil liderar um grupo tão heterogêneo, em
especial onde a vaidade tem cadeira cativa. Às vezes o remédio deve ser forte,
e nem todos estão dispostos a provar o sabor do amargo. Às vezes, para derrubar
muros, a pedrada tem que causar estilhaços. Entendo aquele que tem por rocha
seu nome.
Nosso Pedro
sofreria um grande e irreparável ataque. O filho amado e futuro sucessor
decidiu aprender voar. E nos ares, de forma tão precoce, encerraria sua missão
e retornaria ao Criador. Somente os céus para receber o sorriso tão largo e
alma tão generosa. Que perda. A rocha foi ferida e não seria mais a mesma.
Escrevo estas
linhas, como seu ex-aluno, ex-colega de serviço e amigo, expressando minha
sempre gratidão. Uma de minhas missões é recordar e jamais esquecer daqueles
que dedicaram parte de suas vidas à causa da gloriosa, a nossa Medicina-UEL. Cultuar
seus nomes, suas memórias e seus feitos e fazer com que as novas gerações
saibam honrar aqueles que pavimentaram nosso caminho, com suor, sacrifício
pessoal e até com a própria vida.
Parabéns pelos
80 anos.
Obrigado meu
sempre chefe, a Rocha.
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