Veremos em que dá...

Blog pessoal de Lucio Baena de Melo.

Li hoje que milhares de blogs são criados diariamente e não duram mais que 6 meses.

EIS MAIS UM FORTE CANDIDATO!

Tentarei escrever aqui alguns pensamentos, comentários sobre o dia a dia que se vive embaixo do sol...

Este foi o primeiro post e o deixarei aqui pois explica o título do blog: Um Peregrino.
Por que "Um Peregrino?"

domingo, 24 de julho de 2011

São Paulo de Piratininga e a Piratininga de São Paulo

Pátio do Colégio - lugar onde surgiu a cidade de SP.
Nasci e fui criado em São Paulo. Nasci no Hospital Samaritano. Fui criado num bairro de periferia. Como toda criança criada na periferia joguei muita bola na rua com os pés descalços. Calçados pra se jogar futebol eram luxo desnecessário. Quando muito bastavam um "Bamba" ou um "Kichute". Quando chovia era especial! A garotada ía ao campinho de futebol pra jogar bola no meio do barro. As mães que o digam a delícia que era lavar a roupa depois...
Na medida em que cresci a vida tomou outro rumo e vivo no estado do Paraná há 20 anos. Nele recebi a formação profissional, conheci a esposa (outra paulistana), casei, tive filhos e por lá ainda estou. Mas nunca deixei de amar São Paulo. Nunca deixei de admirar a bravura de sua história.
Estudei numa escola pública. A Escola Municipal de Primeiro Grau Prof. José Ferraz de Campos.
Em 1980 cursava a terceira série primária e aí conheci a melhor professora que tive na vida: Profa. Raquel Maria Chiari, que ainda vive, e não passa ano que eu não ligue a sua casa na cidade de Garça e dedique alguns minutos de sincera admiração e devoção. Inesquecível. Temida e mal entendida por uns, mais que amada por outros. Foi na sala de número 5 desta escola, na penúltima carteira da segunda fileira (contando da janela) que fiquei um ano das 11:00 às 15:00 recebendo seus ensinamentos e sonhando com os países por ela apresentados, as histórias, as brincadeiras, a oração de agradecimento a Deus pelo dia passado que era pronunciada no final da aula (e que meus filhos repetem toda noite uma versão parafraseada). Foi ali que uma grande paixão surgiu, paixão esta incentivada no âmbito familiar: a leitura.
Tornei-me membro da biblioteca pública da Lapa, na rua Catão. Freqüentava-a com assiduidade e foi por ela que tomei conhecimento de um de meus heróis, o Sherlock Holmes, de Conan Doyle. Li todo o conjunto emprestado da biblioteca (hoje tenho o meu em casa e eventualmente dou uma revisitada). E para a degustação de Conan Doyle, Machado de Assis, Vinícius de Moraes, Rubem Braga, Drummond, Sabino e tantos outros que paulatinamente tomava conhecimento, havia um local sagrado, o meu santuário particular: uma árvore. Nos fundos da escola quase que diariamente eu subia seus galhos. Ali ninguém me via, ninguém me achava, os berros de minha mãe por lá não ecoavam... Paz e isolamento total. E o cultivo desta nova e interminável relação: eu e os livros.

Biblioteca Mário de Andrade
Algum tempo depois passei a freqüentar a biblioteca Mario de Andrade, no centro de SP. Ali os vôos foram maiores. Adorava ir à sessão de raridades e pegar edições autografadas de Mário de Andrade e Vinícius de Moraes. Eu passava o dedos em cima dos dizeres escritos à tinta (sob os olhares cuidadosos da funcionária) e eu me sentia como que transladado àquela época e a aquele momento. Era como se eu estivesse ao lado no dia que Mário de Andrade autografara e dedicara aquele exemplar.
Casa de Mário de Andrade

Depois descobri que Mário de Andrade residira à rua Lopes Chaves 546 e que parte de sua residência era mantida do jeito que ele deixou em 1945. Fui lá. Os mesmos móveis, parte da biblioteca, o piano... Também imaginava as reuniões ali ocorridas na época do modernismo. Tarsila sentada de um lado, Oswald de outro. Nesta época iniciei a leitura de suas cartas a Pedro Nava, a Drummond e Manuel  Bandeira. Um mundo novo e cativante. Penetrar nas mentes e no cotidiano destes monstros sagrados da literatura brasileira era muito edificante.

São Paulo é apaixonante. Embora eu more noutra cidade não consigo ficar muito tempo sem revisitá-la. Lembro Fernando Pessoa ao ver Lisboa: ..."outra vez te revejo, o coração mais longínquo, a alma menos minha"... Sempre me emociono ao passar pelo Ibirapuera e ver o Obelisco aos Heróis de 32. Um belíssimo capítulo da história do Brasil e da bravura do povo paulista. NAO DUCOR DUCO - conduzo, não sou conduzido.  Marrey Junior, Pedro de Toledo, Campos Salles, Barão de Ramalho, Benedito Tolosa, Guilherme de Almeida, Arnaldo Vieira de Carvalho, Flamínio Fávero, Carlos da Silva Lacaz (carinhosamente chamado por Ricardo Veronesi de "o Dom Quixote de Guaratinguetá")... as Arcadas do Largo de São Francisco, os monumentos das faculdades de direito e medicina dedicados aos alunos cujas vidas foram ceifadas na Revolução Constitucionalista de 1932 ... 

"Quando se sente bater
No peito heróica pancada,
Deixa-se a folha dobrada
Enquanto se vai morrer."

Versos de Tobias Barreto, no Monumento ao Soldado Constitucionalista de 1932 

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Um dia decidi visitar minha antiga escola, em um destes meus retornos. Revi as salas de aula, as mesmas carteiras, as mesmas lousas, os corredores que por anos viram meus passos, e por fim, como sempre, reencontrar minha velha árvore... Qual não foi a surpresa: ela não mais estava lá. Em seu lugar havia uma placa de concreto. Não sei porque o fizeram. Parte de minha história se foi. Quisera eu ao menos que seu tronco fosse empregado no feitio de centenas de lápis, e assim mais crianças fossem alfabetizadas. Ou móveis ou carteiras escolares criadas e mais crianças recebessem instrução. Ou quiçá, já que foi extirpada, outras duas ou mais fossem plantadas, e num futuro crescessem seus galhos, e um dia uma criança encontrasse sossego e amparo sob suas sombras e pudesse amar os livros...

Não sei o que de ti foi feito. Vejo a placa de concreto em teu lugar e só posso imaginar que pra mim esta é a tua lápide, e que pra mim você sempre viverá. Descanse em paz, velha amiga! A tua morte não foi em vão!

A São Paulo de Piratininga me traz uma série de recordações. "Outra vez te revejo, o coração mais longínquo, a alma menos minha"...

continua...

sábado, 9 de julho de 2011

Sobre filhos...

ESTA semana um de meus pequenos completa mais um ano de vida. Passa-me rapidamente pela cabeça vários momentos: quando eu conversava com meu sócio no consultório e o fax imprimia uma folha - era o teste de gravidez positivo de minha esposa. Os preparativos, a descoberta do sexo do bebê. A escolha do nome, roupas, os meses que se passam, a decoração do quarto, o dia do parto. 
Recordo o dia do parto quando peguei no colo aquela criaturinha que precisava de conforto e carinho. Foi amor à primeira vista. Vi que estaríamos ligados para sempre. 


Eles (meus filhos) não sabem. Desde que estavam no ventre de sua mãe eu sempre pedi (e ainda peço) a Deus que eles recebam proteção do alto. Quando eles nasceram eu os abracei já na sala de parto e pedi a Deus que os conduza pelas veredas da justiça.
Gosto de ler e meditar o Salmo 139 quando narra que "Os teus olhos (Deus) viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma delas havia." Isto denota a soberania de Deus em nossas vidas e nos traz conforto, isto é, para aqueles têm em Deus a razão de esperança nestes dias...


As crianças estão crescendo e cada dia é uma alegria diferente. 


Como mudam nossas vidas e quão tamanha é nossa responsabilidade ao criá-las e torná-las luz num mundo onde o que prolifera é a escuridão. A escuridão da ignorância, do ódio, da violência, da ganância, do materialismo e da pouca espiritualidade. A escuridão da corrupção."Levar vantagem em tudo"...Esquece-se de que um dia o "peso será colocado na balança"... Há um tribunal do qual nenhum de nós escapará. Estamos preparados?



O apóstolo Paulo na carta à igreja em Éfeso escreve que os pais não devem provocar os filhos à ira e sim criá-los na doutrina e na admoestação do Senhor.

O que significa provocar a ira? Embora tenhamos autoridade sobre nossos filhos isto não significa que devemos ser autoritários e abusivos. A correção, quando necessária, deve ser feita com amor e paciência. A correção, a repreensão e o aconselhamento devem ser empregados com ternura e amor.  "O ódio excita contendas, mas o amor cobre todas as transgressões." (Provérbios 10:12). O amor não "encobre", não disfarça e nem evita que venham à tona os erros do viver diário. O amor cura, o amor ensina, o amor corrige e o amor transforma. A ira, não.


..."na doutrina e na admoestação do Senhor."  

O apóstolo Paulo emprega o termo "paideia" (παιδεία) para doutrina que significa toda a instrução fornecida, os valores, a moral, o discernimento... "a transformaçao pela renovação da nossa mente", outro texto paulino. Crescer num ambiente em que se cultivam o amor e a harmonia. Doutrina envolve o conhecimento e o crescimento global. Doutrina é a formação geral, o olhar por elas, o cuidado, a proteção. Já em admoestação está em uso a palavra "nouthesia" (νουθεσία) que embora semelhante ao termo anterior dá grande ênfase ao falar, à transmissão oral. Vemos assim duas interpretações disto: a primeira que envolve toda a instrução que se é transmitida através de posturas, de exemplos e de atitudes; o segundo se relaciona à oralidade, às admoestações que são dadas por palavras de conforto, de incentivo, de exortação e até de censura e reprovação quando necessárias. 


Vemos então que o apóstolo Paulo menciona que os filhos devem ser criados na doutrina e na admoestação do SENHOR.  Todos os pais que são comprometidos com seus filhos preocupam-se com a formação moral, a conduta, o ensino, honestidade, o trabalho, boas maneiras ... Não há necessidade de ser cristão para ser um bom homem. Todas as culturas e todas as crenças estão empregadas a que se haja um homem decente, honesto e melhor. Uma vez conversava com um amigo e ele disse da não necessidade de Cristianismo ou de religiões. Ele é um bom pai, um bom esposo, paga suas contas. Enfim, um homem honesto e honrado. E quantos pensam desta mesma forma? A diferença é que este edifica sua casa sobre a areia e em verdade não se tem o conhecimento da brevidade desta vida. Esquece-se que estamos sendo moldados para uma vida perene e que estes dias são uma pequena amostra. O apóstolo João escreveu que ..." o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre."


O apóstolo enfatiza que os pequenos devem ser criados na doutrina e admoestação do Senhor. Aqui há um outro chamado. O apóstolo convoca os pais a que ensinem aos filhos sobre Aquele que no princípio era o Verbo, o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Aquele que todas as coisas foram feitas por intermédio dEle, e sem Ele, nada do que foi feito se fez. Para que conheçam Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida.  


Há aqueles que edificam sua casa sobre a areia e aqueles que edificam sua casa sobre a rocha. A chuva virá, transbordar-se-ão os rios e os ventos soprarão com violência. A casa que for edificada sobre a Rocha rija permanecerá.


"Que as palavras de meus lábios e o meditar de meu coração sejam agradáveis na tua presença, Senhor, rocha minha e redentor meu!" Salmo de Davi.


Saibamos conduzir os pequenos pelas veredas da justiça que conduzem ao Eterno.

"Os filhos são herança do Senhor". Salmo de Salomão.