Veremos em que dá...

Blog pessoal de Lucio Baena de Melo.

Li hoje que milhares de blogs são criados diariamente e não duram mais que 6 meses.

EIS MAIS UM FORTE CANDIDATO!

Tentarei escrever aqui alguns pensamentos, comentários sobre o dia a dia que se vive embaixo do sol...

Este foi o primeiro post e o deixarei aqui pois explica o título do blog: Um Peregrino.
Por que "Um Peregrino?"

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

 Prof. CARLOS DA COSTA BRANCO

CENTENÁRIO DE SEU NASCIMENTO.

Republico texto escrito 10 anos atrás.

Dr. Carlos da Costa Branco


Se vivo fosse, o professor Carlos da Costa Branco hoje completaria 100 anos.

Dr. Carlos da Costa Branco formou-se pela 31a. turma de Medicina da FMUSP, em 1948. Foi aluno de um dos grandes baluartes da anatomia nacional, Prof. Renato Locchi; e aprendeu o ofício de cirurgião com um outro sagrado nome da medicina, Prof. Benedito Montenegro.

Mudou-se para Londrina no início da década de 50 e foi ativo no ensino e na prática médica por toda a sua vida.

Em 1962 ministrou a primeira aula de anatomia para o curso de Odontologia, na então Faculdade Estadual de Odontologia de Londrina (FEOL). Seus colegas de disciplina foram Profa. Odila Santiago e Prof. Máximo Gonzales Donoso. Quando eu era aluno do curso médico Dra. Odila estava prestes a se aposentar. Prof. Máximo foi meu professor da disciplina de Cirurgia Plástica nos idos de 90.

As aulas para o curso de Odontologia eram ministradas nos porões da Catedral de Londrina e posteriormente no Grupo Escolar Hugo Simas.

Em 1962 Dr. Carlos instituiu a "Missa ao Cadáver". Ato este em respeito àqueles que depois da morte, ainda auxiliariam a vida. Recordo que em 1991, quando iniciava meus estudos no curso de medicina, assisti a "Missa ao Cadáver" e lembro da bela homenagem lida por minha colega de turma, a Dra. Leda Calil.

Seguramente este costume foi adaptado da experiência que Prof. Carlos teve com seu austero professor de anatomia da FMUSP, o Prof. Renato Locchi. 


Renato Locchi
1896-1978

Este, tinha por hábito (no primeiro dia de aula de anatomia do curso médico) mostrar um cadáver aos calouros e explanar sobre o respeito para com o corpo humano e para o que ele representa. Aquele cadáver indigente que talvez em vida não obteve dignidade humana; agora, depois da morte, seria ofertado na manutenção da vida. Assim: toda a aura de respeito e de gratidão. Locchi também levava os alunos na sala de seu grande mestre: Dr. Alfonso Bovero. 





Alfonso Bovero
1871-1937

Prof. Bovero faleceu na Itália quando gozava de sua férias, em 1937. Ano a ano cada turma de alunos era convidada a conhecer a sala de seu mestre, que era mantida da forma como ele deixou. A escrivaninha, o avental talar, o velho tinteiro, a goma para colar correspondência e sua famosa varinha que usava para lecionar e apontar estruturas. Tradição e respeito.



Em meados da década de 60 é fundada em Londrina a FESULON (Fundação de Ensino Superior de Londrina). Esta fundação seria mantenedora do curso de Medicina em nossa cidade, em 1967. Assim se vê fundada a Faculdade de Medicina do Norte da Paraná, hoje nosso Curso de Medicina do Centro de Ciência da Saúde da Universidade Estadual de Londrina. Prof. Carlos da Costa Branco foi professor pioneiro de anatomia para as turmas de Medicina. 

Membro de várias associações de especialidades médicas, além de excelente didata e anatomista. Foi fundador da UNIMED em Londrina, professor habilidoso e Professor Titular de Anatomia do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Londrina (CCB - UEL).

Aos 51 anos, em 1976, sofreu acidente automobilístico e a comunidade médica perdia uma de suas mais rijas colunas.



Em 1997, o Museu Didático de Anatomia recebeu seu nome.

Seu filho, Dr. Carlos Augusto da Costa Branco optou pela carreira do pai e foi professor de várias turmas de Medicina, tenho sido meu professor nos idos de 1991-1992.

Que os mais novos saibam lembrar a memória destes que suas vidas foram dedicadas à causa do ensino e da arte hipocrática.

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Pe. Philip Said. 10 anos de sua morte.

 Pe. Philip Said. 10 anos de sua morte. 



        Eu era o plantonista chefe na noite de 06 de novembro de 2013, quando recebemos em estado grave - no pronto socorro de nosso HU - o Padre Philip. Pouco a medicina dos homens pode fazer por ele naquela noite. No entanto, a cura completa para todos os males do mundo e da alma muito em breve lhe seria oferecida: um outro lugar muito melhor estava reservado para aquele que na Terra dedicou sua vida a serviço e à Glória do Altíssimo. Perdemos o Padre Philip. Recebeu ele um lugar junto ao Eterno.

        Nós que somos mais antigos nos corredores da Gloriosa convivemos com Padre Philip. Um homem diferente. Bengalinha à mão, cachimbo sempre aceso na boca, o sotaque maltês, uma bronca aqui, outra acolá....  Uma das figuras folclóricas de nosso querido HU.

    Das poucas vezes que conversei com ele falávamos sobre tabaco. Ele fumava cachimbo e eu adorava o cheiro, assim como dava minhas baforadas também. As questões espirituais eram deixado de lado. Deveria ter explorado mais os assunto da fé. Teria aprendido com ele. Não era dado a vaidade e também não tinha muito freio no vocábulo. Um padre raiz. Imagino o que ele diria dos padres pops de hoje em dia. Nada contra. Apenas imagino o contraste. 

    Leio que foi a convite do saudoso Dom Geraldo Fernandes que Padre Philip veio ao Brasil, ainda jovem, para desenvolver trabalhos da fé. Ordenado em Londrina, prestou serviço local por 40 anos. Em nosso hospital foi Capelão, levando serviços da fé cristã aos necessitados. Fundou na cidade, em 2000, a Pastoral da Esperança. Aprendo que a Pastoral da Esperança realiza além das exéquias, trabalho de conforto aos enlutados nesta fase difícil da vida. 

    Gosto da carta do Apóstolo Paulo à igreja de Tessalônica: Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança

    Enfim, nossa confiança está naquEle que nos dá a esperança de um mundo melhor.

    Deve ter sido honroso o chamado daquEle que nos redimiu:  Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.

    Saudades. 

domingo, 1 de outubro de 2023

QUAL O VALOR DE UMA PLACA?

QUAL O VALOR DE UMA PLACA? 




    Em início dos anos noventa era eu um jovem aprendiz na escola médica. Dava meu primeiros passos no belíssimo campus da UEL e nos corredores de nosso hospital, o HU, como membro da Gloriosa, a nossa Medicina-UEL.  Já não sou mais jovem embora ainda seja um eterno aprendiz. 

    No saguão, na entrada de nosso hospital, sempre me deparava com as placas das turmas que por nossa casa passaram. Alguns nomes já não estavam entre nós, outros viriam a ser meus docentes, outros amigos e colegas na docência...E com o tempo muitos já se foram. Nessas paredes, em razão de pouco espaço, a algumas turmas era dada a possibilidade de deixar uma placa no saguão. E eram elas que eu passava minutos admirando, muitas e muitas vezes, ao longo das semanas, meses e anos em que ela frequentei.

    Um belo dia as placas foram retiradas. Não sei explanar a razão. E ficaram anos longe das paredes de nossa casa. Minha turma - a 44 - foi agraciada com uma placa. Meu nome e o de meus pares estavam lá. Lembro quando foi descerrada e recordo a alegria de meus amigos e amigas ao terem eternizados seus nomes na parede da casa a que tudo devíamos, que tanto por nós fez e o quão pouco a ela retribuímos. Estaríamos ali para sempre. No entanto, foram retiradas e longe de nossa casa permaneceriam, por muitos anos. 

    Certa vez, já docente da casa, procurei saber a razão da retirada e onde estavam. Nunca soube ao certo nem uma e nem outra. Protocolei um pedido junto à Universidade para que se desse uma resposta de onde estavam as placas, pois aquilo (as placas) fazia parte da memória de uma instituição. Tempos passaram, houve até questões judiciais envolvidas e por fim foram localizadas. Alguns colegas (quando eu perguntava das placas) riam e achavam um absurdo se preocupar com algo tão banal, tão material (placas?) quando se há tanta coisa mais importante para o desenvolvimento dos trabalhos no hospital. Concordo, há questões emergenciais que demandam maior empenho. Não há dúvida. Mas eu sou uma pessoa limitada, meu prazer e deleite permeiam a área da memória, da tradição, o honrar a quem é devido honra, no dizer do apóstolo Paulo. Não tenho lá tantas virtudes. Mas o amor à causa da Gloriosa, sua história, seus nomes e seus feitos fazem parte do objeto de minha veneração.

    Uma da filhas da Gloriosa, Profa. Susana (Turma 34) foi uma das que abraçou a causa do resgate de nossas placas. A ela devo o agradecimento do achado e busca. Talvez haja mais pessoas envolvidas, mas não sei os nomes e de antemão peço perdão por minha falta.

    Qual o valor de uma placa? No sentido material: quase nada. A Turma I da Gloriosa - que ano passado completou seu Jubileu de Ouro -  sentiu-se assaz incomodada ao visitar a antiga casa e não mais encontrar seus nomes, sua placa. Para eles era um símbolo! Uma marca. Confessou-se a mim que se a instituição nao tinha interesse em expor sua placa que se desse aos membros da Turma. eles saberiam honrá-la.  Mas não é apenas uma placa de metal? Qual o valor de uma placa? A Turma 2 - que no próximo mês reunir-se-á para seu Jubileu de Ouro - possui uma placa que foi inserida em seu Jubileu de Prata. E esta também esteve fora da casa. Qual o valor de uma placa?

    A placa representa o triunfo de homens e mulheres que ousaram criar uma Escola Médica de alto padrão no interior do Paraná. A placa representa o esforço de jovens recém saídos da adolescência em busca do aprendizado da mais bela e nobre das ciências. O convívio diário em ambiente hospitalar os forjaria homens e mulheres fortes para lidar com a dor e o sofrimento, no exercício hipocrático. Cada nome ali representado em cada placa resume noites acordadas abraçado aos livros, horas e horas de intermináveis plantões, estudo, cansaço, às vezes até humilhações... mas se cumpria o trato e se finalizava a tarefa, pois o que se almejava era maior que o sofrimento. Qual o valor disso? Cada nome representado numa placa significa: renúncia, dedicação, trabalho e os louros do dever cumprido. Isso é o valor de cada placa. 

    Recentemente, a atual Direção do Centro de Ciências da Saúde (CCS) representada pela Profa. Andrea Name aquiesceu o desejo de resgatarmos as placas e colocá-las nas paredes de nossa casa, de onde nunca deveriam ter saído. Agradeço e muito Profa Andrea, Prof. Alessandro Melanda (Colegiado de Medicina) e demais Coordenadores dos outros cursos do CCS que concordaram em ceder espaço e entenderam o valor de honrar o passado.

    Hoje (domingo) estive lá vendo e organizando o cenário. As placas retornam à Casa da Gloriosa. Na medida em que eram inseridas lembrei de meus mestres que já se foram, de outros que se aposentaram, de contemporâneos, de alunos que hoje são professores das novas gerações de filhos da Gloriosa. Estão ali, eternizados no metal, servindo de exemplo aos futuros médicos e professores de nossa casa. 

    Qual o valor de uma placa? Representa parte gloriosa da história de nossas vidas. 

    Que os mais novos jamais se esqueçam daqueles que dedicaram parte de suas vidas à causa da Gloriosa e que possamos honrar suas histórias e seus feitos. 

    Do menor filho da casa, 

    Lucio Baena de Melo (Turma 44).

quinta-feira, 22 de junho de 2023

Pedro, a Rocha. 80 anos!

Pedro, tu és a rocha.



               Foi desta forma que o Divino Mestre chamou aquele que seria seu maior líder: Tu és Pedro, tu és a rocha. Há 2000 anos aquele pescador ouviu o chamado. Em poucos anos suas ideias, seu trabalho tenaz e persistência incendiariam a humanidade. Aquele era Pedro, o pescador, o Bispo de Roma pela tradição católica. Era um homem bravo. O Apóstolo S. Lucas menciona que certa vez Pedro desembainhou a espada e decepou e orelha de Malco, servo do sumo sacerdote, quando soube que uma tocaia havia sido montada para prender o Seu Senhor. E ainda assim foi o escolhido para ser a pedra, a rocha que estabeleceria a igreja cristã sobre a Terra. Penso cá comigo, se aquele Pedro não era espanhol, como o nosso o é.

Pedro – aquele – faleceu jovem em torno do ano 60 da era cristã, a mando de Nero. Mas como bom pescador soube lançar a rede para que a renda viesse em abundância. Sua semeadura ainda hoje se ceifa. Produziu a cento por um, no dizer do evangelista.

               O nosso Pedro hoje completa 80 anos. Pedro, tu és a rocha! Nosso Pedro também ouviu um chamado. Em fins dos anos 60 e início dos 70, sobre seus ombros seria lançado um desafio: montar e liderar um grupo na Universidade. Neste mesmo serviço, que hoje é nossa casa, a nossa rocha seria o primeiro Professor Doutor, ao defender sua tese em maio de 1970.  Anos depois, sob suas redes o pescador montaria a residência de neurocirurgia, seria chefe de um grande serviço, e se tornaria meu primeiro e inesquecível chefe. Para liderar um grande grupo só mesmo aquele que tem no nome a marca da pedra. Pedro, a rocha.

               Pedro, o bispo de Roma, teria atritos em sua jornada. Paulo, o apóstolo dos gentios, o encontraria e discutiriam face a face. Ah, Paulo. Certamente ele não ouvira sobre o ocorrido com a orelha de Malco.  Se acaso soubesse, pôs a orelha em risco. Homens fortes e de opiniões rijas. De pedra, como nosso Pedro, a rocha.

Nosso Pedro foi titular da cadeira até se aposentar, aos 70 anos. Alguns anos antes fui aceito como parte do grupo, o mais jovem membro da seita (assim define a neurologia meu mestre Sidônio). Passados 10 anos continuo por lá. Não sou o mais jovem mas prossigo ainda sendo o menor de todos, sentindo falta de Pedro, a rocha.

Pedro, o nosso espanhol, não usava o anel do pescador nem o cetro como o Pedro de Roma. Nosso Pedro exerceu cargo de liderança. Ora com toques de seda, ora com punhos de ferro, ou melhor, de rocha. Não deve ser fácil liderar um grupo tão heterogêneo, em especial onde a vaidade tem cadeira cativa. Às vezes o remédio deve ser forte, e nem todos estão dispostos a provar o sabor do amargo. Às vezes, para derrubar muros, a pedrada tem que causar estilhaços. Entendo aquele que tem por rocha seu nome.

Nosso Pedro sofreria um grande e irreparável ataque. O filho amado e futuro sucessor decidiu aprender voar. E nos ares, de forma tão precoce, encerraria sua missão e retornaria ao Criador. Somente os céus para receber o sorriso tão largo e alma tão generosa. Que perda. A rocha foi ferida e não seria mais a mesma.

Escrevo estas linhas, como seu ex-aluno, ex-colega de serviço e amigo, expressando minha sempre gratidão. Uma de minhas missões é recordar e jamais esquecer daqueles que dedicaram parte de suas vidas à causa da gloriosa, a nossa Medicina-UEL. Cultuar seus nomes, suas memórias e seus feitos e fazer com que as novas gerações saibam honrar aqueles que pavimentaram nosso caminho, com suor, sacrifício pessoal e até com a própria vida.

Parabéns pelos 80 anos.

Obrigado meu sempre chefe, a Rocha.

quarta-feira, 24 de maio de 2023

 EDUARDO DE ALMEIDA REGO FILHO, 15 anos sem o mestre.

    Eu era quintoanista do curso de medicina, na nossa Gloriosa Medicina UEL, quando iniciei a parte prática do curso  - que chamamos Internato Médico. O primeiro estágio que teria contato seria a Pediatria. 

    Era o chefe da enfermaria o Prof. Dr. Eduardo Rego, um dos responsáveis pela estruturação da Pediatria no curso de Medicina da então Faculdade de Medicina do Norte do Paraná, a nossa Gloriosa, em início dos anos 70.

    Minhas impressões era, de que era um misto de homem severo e bonachão. Pessoalmente, aprendi a gostar da disciplina ao conviver com ele na enfermaria. Disciplinado, exigente e justo.  Numa época em que não havia tablets, smartphones e os celulares estavam sendo lançados, ele possuia um caderninho de bolso que era um verdadeiro compêndio de pediatria. Conforme passávamos visita na enfermaria, quando havia dúvidas de doses, esquemas terapêuticos e detalhes que fugiam à memória, ele sacava a enciclopédia do bolso e nos dirimia. Onde estará este caderninho? Gostaria de tê-lo em meus guardados de história do curso. 

    Ainda aluno, tive a oportunidade de ter várias conversas na cantina com o mestre. Parece que tínhamos horário marcado. O difícil era abordá-lo, quebrar o gelo. No entanto, após algumas frases (sempre tinha que ser estimulado) o mestre se abria em sorrisos, causos e conselhos. Eu era bom em puxar a conversa, e ele cedia. Era um aprendizado sobre a vida. Apaixonei-me pela pediatria. Eu amava tanto cuidar dos pequenos que percebi não ter estrutura emocional pra viver isso para sempre, vê-las internadas, privadas de uma vida normal fora do ambiente hospitalar, por mais que cuidássemos para que o local fosse alegre e atrativo. O Eterno me reservava outros planos.  

    Como essa vida é curiosa: meu sogro  - aluno do velho mestre - enveredou-se pela pediatria . Esteve o velho mestre no casamento de meus sogros. Anos depois, minha esposa seguiria o caminho do pai e do antigo professor. Cursou a residência na mesma escola. Anos depois seria integrada à docência no mesmo departamento e universidade. É o cumprimento da máxima das escrituras: Pelos frutos os conhecereis. 

    O mestre era formado pela Universidade Estadual  da Guanabara. Adentrou à nossa casa em 1971 e posteriormente se tornaria Professor Titular de Pediatria e Cirurgia Pediátrica. .

    Faleceu aos 69 anos, 15 anos atrás.

Formou uma pleiade de discípulos que honra a tradição de nossa casa, de nossa cidade e o seu próprio nome, que jamais deve ser esquecido.

Saudades do velho mestre.

Que os mais novos possam  conhecer sua memória e seus atos e que jamais nos esqueçamos daqueles que dedicaram suas vidas à causa da Gloriosa. 


domingo, 26 de março de 2023

ALTAIR JACOB MOCELIN - 10 anos sem o mestre.

 ALTAIR JACOB MOCELIN - 10 anos sem o mestre.



ALTAIR JACOB MOCELIN - 10 anos sem o mestre.

        
        Acredito que uma de minhas missões nesse vale é exaltar o nome e a memória de meus antigos mestres e daqueles que dedicaram parte de suas vidas à causa da Gloriosa, a Medicina UEL. Em meus parcos e faltos textos procuro trazer à lembrança seus nomes, datas e feitos. Um trabalho de formiga, sem ampla divulgação ou alarde, e que expressa a gratidão de um filho devotado à casa que tudo deve.
        
        Hoje rememoro os 10 anos da perda deste insigne mestre, o Prof. Altair Jacob Mocelin. De longe não sou a melhor pessoa para escrever sobre o mestre. Fui apenas aluno na graduação e residência. Não fui um dos discípulos mais fieis que partilharam seu dia a dia. Talvez Prof. Dr. Vinícius Delfino seja o nome mais indicado, ou aqueles que faziam parte do grande triunvirato (em um sentido elevado do termo) da Nefrologia em nosso país: Pedro Gordan, Anuar Matni e o homenageado. 
        
        Quando converso com seus ex-residentes (Denis, Kunii, Jaqueto, Francisco, Miguita, Fabrízio, a lista é grande...) e tantos outros que conviveram com o mestre, sempre há histórias pessoais - uma mais notável que outra - da bondade e compromisso para com os pacientes, alunos e com todos que compartilhavam sua grandeza, expressa em sua humilíssima personalidade. Não vou dissertar sobre seu pioneirismo na nefrologia, sobre sua formação em Harvard, o primeiro tranplante de rim no Paraná. Isso deixo para seus fieis discípulos. Era um professor simples, que sentava à mesa com seus alunos e os tratava como seu igual. Sem soberba, dedicado e com interesse genuíno de exercer a prática do bem. 

        Os grandes homens, aqueles que realmente fazem a diferença e dão nó em nossas mentes, aqueles cuja maestria, bondade e saber são insondáveis, eles não precisam de propaganda, de coach, do poder das mídias.. Nós, os medíocres, acabamos por nos render a essa caixa de Pandora.  Já estes meus antigos mestres, como o relembrado, estes possuem brilho próprio. Basta o poder do exemplo. Basta sua própria vida.  
    
        Saudades.

        Que jamais nos esqueçamos daqueles que dedicaram parte de suas vidas à causa da Gloriosa e que os mais novos saibam honram seus nomes e seus feitos.

domingo, 13 de março de 2022

BANDANA LARANJA - subsídios para a História da MEDUEL - A Gloriosa.

 

Bandana Laranja

Subsídios de sua história


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  PEDIDO dos alunos da Atlética de nossa MEDICINA UEL – A GLORIOSA, faço alguns apontamentos sobre a origem e significado da bandana laranja. Não é um levantamento histórico profundo. São algumas informações que coletei aqui e acolá, que servirão de subsídios àqueles que se aventuraram a escrever sobre os “causos” de nossa querida Gloriosa.

Para quem está chegando e desconhece facetas de nosso curso o que ocorre é o seguinte: o aluno aprovado no curso de Medicina da UEL recebe uma bandana laranja e nela é grafado um apelido. Além do apelido e do número de sua Turma, está impresso o símbolo mor de nosso curso de Medicina da UEL: o Dr. Perobal. O ingressante deverá usar esta peça de vestuário até dia 13 de maio, quando ocorrerá sua “libertação”, já que é o Dia da Abolição da Escravatura. Isso tem gerado conflitos em alguns calouros. A comparação de ser calouro com escravidão e outras questões acabam por surgir. Realmente não se pode (e nem se deve) comparar uma coisa à outra. No entanto, vejo pelo lado festivo e comemorativo do evento, ou seja, a marca de se vencer a etapa do vestibular em uma escola pública, que qualidade, e em um dos cursos mais difíceis: o de Medicina . Quantos não se dedicaram anos de estudo para vencer o concorrido vestibular e sem sentem honrados de vestir algo que simbolize ser membro da Gloriosa? Se em minha época existisse a bandana, eu a usaria com orgulho. Devo estar envelhecendo rápido. Soube que alguns recém-chegados à casa se recusam a usá-la, pois indica submissão e subserviência. Sinal dos tempos. Ah! Vão arrumar coisa melhora para se fazer! Vão!



Então vamos lá:

Quando fui aceito pela Gloriosa não havia o uso da bandana. Em nosso trote (naqueles idos havia trote) recebíamos um avental, uma bata. Guardo-a aqui como símbolo de uma conquista. Não havia nada mais que identificasse os alunos como estudantes da MEDUEL. Assim, era comum que já no início das aulas, as turmas bolassem um desenho para que se confeccionasse a camiseta de sua Turma. Em minha Turma (XLIV, que ingressou em agosto de 1991) o desenhista da camiseta foi meu querido colega Fernando Massaki Mashima. Cada Turma elaborava sua camiseta e se usava como troféu da conquista.

O símbolo do curso de Medicina da UEL por tradição sempre foi (e ainda é) o Dr. Perobal.  Sobre este tema pretendo escrever um texto mais completo sobre nosso querido e saudoso aluno da Gloriosa, Sérgio Russo (médico, desenhista, músico, artista-plástico, membro da Turma V e formado pela VI). Coube a Sérgio Russo (1952-2010) a criação do Dr. Perobal, seu alter-ego, no início dos anos 70. Curiosamente, quando Sérgio criou o redonducho Dr. Perobal, ele era magro. Com o tempo, o criador acabou por se assemelhar à criatura. A história de nosso curso está ligada à criação do Dr. Perobal, e consequentemente a seu criador, Dr. Sérgio Russo. Que sua memória seja eternizada. Em breve escreverei sobre ele. 

Em 2001, quando a Turma LV iniciava seus estudos, alguns alunos decidiram para o trote de seus calouros criar  uma vestimenta, uma marca, que pudesse identificar os calouros da Gloriosa. Conta-nos o membro da Turma LV, o neurocirurgião e Professor de nossa casa, o Dr. Adriano Torres Antonucci, que a decisão caiu sobre a Bandana Laranja. E nessa bandana, como mencionado acima, era grafado o apelido do aluno, o número de sua Turma e o Dr. Perobal. Cada aluno recebia a bandana, um apadrinhamento (alguns se tornaram posteriormente em casamento, por exemplo: Francisco da LXII e Milena LXIII) e um apelido. Alguns apelidos eram honrosos, outros nem tanto. Quando escrevo aluno, refiro-me a alunos e alunas; escrevo ainda com a mente do século passado.

Pela tradição, a bandana deveria ser usada até 13 de maio, data da Abolição da Escravatura. Não quero questionar a data, se a escolha é válida ou não. Fato é que se criou uma tradição, uma identidade afetiva aos nossos alunos. Tem sido honroso aos calouros portar o símbolo desta vitória. E que não deve ser abandonada ou esquecida. Não recebi bandana pois não havia à época. No entanto, quando fui Patrono da Turma LXII e Nome de Turma da LXIII consegui uma bandana e honrosamente a portei como no bolso de paletó como um lenço.

Por que cor laranja? Não sei. Há hipóteses. Uma delas é que seja oriunda da cor do Dr. Perobal, que era laranja. É possível e faz sentido à cronologia da história. Outra versão, mais romantizada, é que nas Intermeds da vida um grande nadador da Gloriosa era o Marquezine, hoje mais conhecido como Prof. Dr. Guilherme Figueiredo Marquezine (Turma XLVII, atual Professor da Gloriosa, irmão do Henrique da Turma LIII, ambos filhos do Francisco Jose Marquezine, da Turma II). Guilherme Marquezine, reza o credo, era bom nadador, ganhava muitas competições e sempre usava uma touca de natação de cor laranja. E seria um dos motivos da Bandana ser laranja... Qual seria a história real? Talvez uma mistura das duas.

Anos após a Turma LVIII instituiria outro apetrecho nos calouros: uma gigante bola laranja, o Bolão. O aluno, além de portar a bandana laranja, deveria doravante carregar um bolão gigante laranja. Os rumores versam sobre fazer pilhéria, infernizar a vida do calouro com um treco gigante.  Mas, como há gente estúpida em todos os cantos do mundo, veteranos de outros cursos determinaram que um dos objetivos dos calouros era roubar o bolão laranja dos alunos da medicina. Certa feita, um imbecil usou de um canivete para estourar o bolão de uma garota da Medicina. Ninguém se feriu, mas viu-se o quão estúpido podem ser alguns comportamentos. Após alguns encontros entre docentes e alunos decidiu-se por bem aposentar o bolão. Será que lembraram os alunos dos outros cursos deixarem de portar canivete?  Apesar de tudo, a bandana segue firme.



Enfim, eis um resumo do histórico da Bandana Laranja, símbolo de uma grande e inesquecível conquista, que cada calouro deveria utilizar pois simboliza uma grande vitória em sua vida, além de adentrar ao seleto grupo de membros da Gloriosa, em honra e tradição à sua história.

 

Agradeço depoimentos de Issao Udihara (Turma V) Adriano Torres Antonucci (Turma LV), Letícia Campos Barbosa (Turma LIX), José Eduardo Colla da Silva (Turma LVIII) e Teresa Russo (esposa de Sérgio Russo – Turma 5 e 6).

 

 

Lucio Baena de Melo (Turma XLIV).