Ides
Minha amada, incomparável e inesquecível Profa. Ides Sakassegawa.
Quantas saudades! Hoje estamos 3 anos sem você.
Ah
Ides! Como você faz falta! Durante nossa passagem pela escola médica, sempre houve
aqueles professores que colocamos num pedestal de dignidade e decência. Aqueles
que representam o que almejamos na vida profissional e, se digno fôssemos,
gostaríamos de alçar os mesmos voos na vida acadêmica. Como te admiramos,
sempre e intensamente. Fiel amiga e conselheira. Professora de medicina e exímia
cirurgiã. Próxima dos alunos, interessada em ensinar as novas gerações de
médicos e futuros cirurgiões. Amava a Medicina-UEL, a Gloriosa. Você foi uma das
filhas mais nobres e amadas de nossa casa. Simples, sincera, firme quando
necessário e sem as vaidades que permeiam nosso meio.
Ah,
Ides. Por que você foi embora tão cedo? Você, Waldir e tantos outros... Que
vazio difícil de preencher.
Às
vezes, Ides, eu acho que o Eterno olhou para este vale de lágrimas, viu o quão
estranho anda este mundo e disse: Basta Ides! Volta pra casa que este mundo não
é digno de você! E assim o fez.
Privados
estamos de uma das colunas que sustentava nossa casa. E ela vai aos poucos
ruindo. Entretanto, vez ou outra ouve-se o chamado. O chamado a retornar à casa
que nos deu tanto e que por ela temos feito tão pouco. E assim tentamos manter nossa
escola aos moldes do que foi em seus áureos tempos. Saudades das visitas do Prof.
Lucio Marchesi, quando exigia desde postura, apresentação dentro dos ditames da
técnica, vestimenta e sobretudo: respeito. Respeito para com os mestres e principalmente
aos pacientes. Ele nos alertava que a sociedade não nos via como estudantes, e
sim médicos. E devíamos nos portar como tal. Hoje se vai às aulas dentro do
complexo hospitalar de chinelo e bermuda. Sinal dos tempos. Mas esse meu comentário
é apenas um devaneio de alguém que tem a alma antiga, aprendeu a amar e não se
esquecer de seus mestres e de sua antiga casa.
Dias
atrás fui a um museu de medicina que não o visitava há uns 15 anos ou mais. Nas
férias, nos idos dos anos 90, passei certamente centenas de horas em seus
corredores vendo quadros, fotos e livros relacionados à nossa história e nossa
arte. Desta vez notei que o espaço do museu foi reduzido sobremaneira. Não mais
vi as fotos de turmas que ornavam os corredores e senti que parte de mim se foi
junto nem os quadros dos grandes mestres. Motivos técnicos os houve, mas
perdeu-se a beleza e o encanto. Então recordei que em nossa casa, a amada
Medicina UEL, em nosso hospital havia quadros de formandos. Numa das paredes,
estava lá o nosso quadro, o da XLIV Turma de Medicina da UEL. E teu nome estava
lá, nossa eterna patronesse, e homenageada de tantas outras turmas. Quis o
Eterno que anos depois juntos fôssemos homenageados por uma mesma turma da
Gloriosa.
Olhei agora em meu convite de formatura, de 1997 e vejo uma feliz assinatura tua e dos homenageados. Parte de meu tesouro pessoal e de minhas memórias..
Em
nossa casa, Ides, as placas não estão mais lá. Foram retiradas e não mais
colocadas. Ou seja, somos uma casa que pouco valor se dá à memória e culto ao passado.
Alguns têm se levantando, como professores do quilate de Marco Fornazieri, Leandro
Diehl e outros, que ouviram o chamado de preservar nossas memórias e tradições.
Eu também tento, mas com menos talento e dedicação.
Você
não tem um quadro na escola, não me recordo de uma sala com teu nome, uma árvore
plantada em tua memória ou algum evento que se possa recordar daqueles que
dedicaram parte de suas vidas à Gloriosa. Apesar de nossas inúmeras falhas, você
vive na memória daqueles alunos que te amaram como eu.
Tento
aqui, Ides, com estas pobres linhas te eternizar, nestes parcos escritos de quem
tenta ser um aprendiz de memorialista e um cronista pior ainda.
Enfim,
Ides, hoje estou mais triste porque você aqui não está.
Logo
mais irei à nossa casa, o nosso hospital. Passarei no Plátano que plantei,
recordarei você e farei uma prece pedindo a Deus que um dia eu possa ser um pouquinho
digno de você.
Com
saudade infinda e amor filial,
L.