Veremos em que dá...

Blog pessoal de Lucio Baena de Melo.

Li hoje que milhares de blogs são criados diariamente e não duram mais que 6 meses.

EIS MAIS UM FORTE CANDIDATO!

Tentarei escrever aqui alguns pensamentos, comentários sobre o dia a dia que se vive embaixo do sol...

Este foi o primeiro post e o deixarei aqui pois explica o título do blog: Um Peregrino.
Por que "Um Peregrino?"

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Ides Sakassegawa

 Ides


Minha amada, incomparável e inesquecível Profa. Ides Sakassegawa.


Quantas saudades! Hoje estamos 3 anos sem você.

Ah Ides! Como você faz falta! Durante nossa passagem pela escola médica, sempre houve aqueles professores que colocamos num pedestal de dignidade e decência. Aqueles que representam o que almejamos na vida profissional e, se digno fôssemos, gostaríamos de alçar os mesmos voos na vida acadêmica. Como te admiramos, sempre e intensamente. Fiel amiga e conselheira. Professora de medicina e exímia cirurgiã. Próxima dos alunos, interessada em ensinar as novas gerações de médicos e futuros cirurgiões. Amava a Medicina-UEL, a Gloriosa. Você foi uma das filhas mais nobres e amadas de nossa casa. Simples, sincera, firme quando necessário e sem as vaidades que permeiam nosso meio.

Ah, Ides. Por que você foi embora tão cedo? Você, Waldir e tantos outros... Que vazio difícil de preencher.

Às vezes, Ides, eu acho que o Eterno olhou para este vale de lágrimas, viu o quão estranho anda este mundo e disse: Basta Ides! Volta pra casa que este mundo não é digno de você! E assim o fez.

Privados estamos de uma das colunas que sustentava nossa casa. E ela vai aos poucos ruindo. Entretanto, vez ou outra ouve-se o chamado. O chamado a retornar à casa que nos deu tanto e que por ela temos feito tão pouco. E assim tentamos manter nossa escola aos moldes do que foi em seus áureos tempos. Saudades das visitas do Prof. Lucio Marchesi, quando exigia desde postura, apresentação dentro dos ditames da técnica, vestimenta e sobretudo: respeito. Respeito para com os mestres e principalmente aos pacientes. Ele nos alertava que a sociedade não nos via como estudantes, e sim médicos. E devíamos nos portar como tal. Hoje se vai às aulas dentro do complexo hospitalar de chinelo e bermuda. Sinal dos tempos. Mas esse meu comentário é apenas um devaneio de alguém que tem a alma antiga, aprendeu a amar e não se esquecer de seus mestres e de sua antiga casa.

Dias atrás fui a um museu de medicina que não o visitava há uns 15 anos ou mais. Nas férias, nos idos dos anos 90, passei certamente centenas de horas em seus corredores vendo quadros, fotos e livros relacionados à nossa história e nossa arte. Desta vez notei que o espaço do museu foi reduzido sobremaneira. Não mais vi as fotos de turmas que ornavam os corredores e senti que parte de mim se foi junto nem os quadros dos grandes mestres. Motivos técnicos os houve, mas perdeu-se a beleza e o encanto. Então recordei que em nossa casa, a amada Medicina UEL, em nosso hospital havia quadros de formandos. Numa das paredes, estava lá o nosso quadro, o da XLIV Turma de Medicina da UEL. E teu nome estava lá, nossa eterna patronesse, e homenageada de tantas outras turmas. Quis o Eterno que anos depois juntos fôssemos homenageados por uma mesma turma da Gloriosa.

Olhei agora em meu convite de formatura, de 1997 e vejo uma feliz assinatura tua e dos homenageados. Parte de meu tesouro pessoal e de minhas memórias..



Em nossa casa, Ides, as placas não estão mais lá. Foram retiradas e não mais colocadas. Ou seja, somos uma casa que pouco valor se dá à memória e culto ao passado. Alguns têm se levantando, como professores do quilate de Marco Fornazieri, Leandro Diehl e outros, que ouviram o chamado de preservar nossas memórias e tradições. Eu também tento, mas com menos talento e dedicação.

Você não tem um quadro na escola, não me recordo de uma sala com teu nome, uma árvore plantada em tua memória ou algum evento que se possa recordar daqueles que dedicaram parte de suas vidas à Gloriosa. Apesar de nossas inúmeras falhas, você vive na memória daqueles alunos que te amaram como eu.

Tento aqui, Ides, com estas pobres linhas te eternizar, nestes parcos escritos de quem tenta ser um aprendiz de memorialista e um cronista pior ainda.

Enfim, Ides, hoje estou mais triste porque você aqui não está.

Logo mais irei à nossa casa, o nosso hospital. Passarei no Plátano que plantei, recordarei você e farei uma prece pedindo a Deus que um dia eu possa ser um pouquinho digno de você.

Com saudade infinda e amor filial,

L.